No dia cinco de Maio tivemos a honra de ter connosco o Prof. Dr. Jorge Paiva, eminente biólogo e fitotaxonomista. Numa palestra subordinada ao tema “ A Biodiversidade e a História da Floresta Portuguesa”, organizada pelos alunos do Curso Profissional de Técnico de Turismo Ambiental e Rural, o Professor alertou alunos e professores para os perigos e consequências da perda de biodiversidade que, infelizmente, se vem acentuando no nosso país. Depois de ter feito uma clara resenha histórica da evolução da floresta portuguesa, apresentou imagens preocupantes da delapidação de espécies endémicas importantes ao equilíbrio ecológico e explicou que o seu desaparecimento vai trazer graves prejuízos para a gerações futuras. Afirmou que em meados deste século, a vida das próximas gerações poderá estar seriamente ameaçada se não se inverter o rumo que os nossos políticos têm dado à sua preservação. Esta preocupação prende-se com nefasta substituição da enorme faixa de pinhal, pelos eucaliptais (ecossistemas antrópicos de muito menor biodiversidade do que os pinhais). Esclareceu que: “Com os incêndios e pela acção do homem, parte das nossas montanhas e algumas zonas ribatejanas e alentejanas estão já transformadas em imensos eucaliptais (Portugal tem, actualmente, a maior área de eucaliptal da Europa) e acaciais, estando já algumas montanhas transformadas em zonas desérticas, plenas de rochas. ” Acrescentou que: “Se os nossos governantes continuarem, teimosamente, a não querer ver o que está a acontecer, caminharemos para uma diminuição drástica de Biodiversidade florestal e rapidamente para um amplo deserto de pedras montanhoso, com a planície e o litoral transformado num imenso acacial, como, aliás já acontece em muitas regiões de Portugal.”
Foi uma sábia, viva, pertinente e pedagógica lição numa altura em que se assinala o Ano Internacional das Florestas. Obrigada Professor!
Professora Helena Trigueiros
Artigo de Opinião do Professor Jorge Paiva
(elaborado para a Conferência realizada para a Escola Sec./3 Barcelinhos)
A BIODIVERSIDADE E A HISTÓRIA
DA
FLORESTA PORTUGUESA
Jorge Paiva
(Biólogo)
Centro de Ecologia Funcional. Universidade de Coimbra
Contam-se e aprendem-se muitas histórias durante a nossa vida. Na infância são histórias muito variadas para entretenimento ou para uma melhor integração das crianças no meio em que vivem. Nos estabelecimentos de ensino aprende-se a história do nosso país, a história universal, um pouco de história da literatura, da poesia, das ciências, das religiões, etc., mas nada sobre a história da nossa floresta.
Durante as grandes mudanças climáticas pleistocénicas, com avanços e recuos dos gelos continentais (glaciações), o nosso território esteve coberto de florestas diferentes das actuais.
Portugal Continental e Regiões Autónomas, antes das glaciações, tinha, pelo menos as montanhas, cobertas de florestas sempre-verdes (laurisilva) e durante a última glaciação, aparte continental, teve uma cobertura florestal semelhante à actual taiga, que foi naturalmente substituída por florestas mistas (fagosilva) de árvores sempre-verdes e caducifólias, transformando Portugal Continental praticamente num imenso carvalhal caducifólio (alvarinho, e negral) a norte do Tejo e perenifólio (azinheira e sobreiro) para sul. Por destruição dessas florestas as nossas montanhas continentais passaram a estar predominantemente cobertas por matos de urzes, giestas, tojos, torgas e carqueja. Principalmente, a partir do século XIX, foram artificialmente rearborizadas com pinheiro-bravo, o que as transformou em imensos pinhais. Tivemos, assim, a maior área contínua de pinhal da Europa. Este tipo de floresta de produção mono-específico (apenas uma espécie arbórea; o pinheiro-bravo) é de muito menor Biodiversidade do que a fagosilva. Durante a segunda metade do século passado (XX) houve um enorme aumente deste tipo de floresta mono-específica, mas com eucalipto. Os eucaliptais são ecossistemas antrópicos de muito menor Biodiversidade do que os pinhais.
Com os incêndios e pela acção do homem, parte das nossas montanhas e algumas zonas ribatejanas e alentejanas estão já transformadas em imensos eucaliptais (Portugal tem, actualmente, a maior área de eucaliptal da Europa) e acaciais, estando já algumas montanhas transformadas em zonas desérticas, plenas de pedregulhos.
Se os nossos governantes continuarem, teimosamente, a não querer ver o que está a acontecer, caminharemos para uma diminuição drástica de Biodiversidade florestal e rapidamente para um amplo deserto de pedras montanhoso, com a planície e o litoral transformado num imenso acacial, como, aliás já acontece em muitas regiões de Portugal.